quarta-feira, 17 de junho de 2015

OS VASOS PRECIOSOS

Os vasos preciosos 

     Um príncipe poderoso possuía vinte vasos de porcelana, belíssimos, que eram seu orgulho. Guardava-os numa sala especial, onde ficava durante muitas horas a admirá-los.
     Um dia, sem querer, um criado quebrou um dos vasos.
     O príncipe, enfurecido e inconsolável com a perda do precioso objeto, condenou à morte o desastrado.
    Nessa ocasião, apresentou-se no palácio um velho sábio que se propôs a consertar o vaso de maneira a ficar perfeitamente igual aos outros, mas, para isso, precisava ver todos juntos.
    A sua proposta foi aceita. Sobre uma mesa coberta com riquíssima toalha, estavam os dezenove vasos enfileirados. Aproximando-se o sábio, como se tivesse enlouquecido, puxou com violência a toalha e os vasos tombaram ao chão, em pedaços.
    O príncipe ficou mudo de cólera, mas antes que ele falasse, o sábio, tranquilamente, explicou:
    - Senhor, estes dezenove vasos poderiam custar a vida a dezenove infelizes; assim, dou por estes a minha,  porque, velho como sou, para nada sirvo.
    Refletindo, o príncipe compreendeu que todos os vasos do mundo, por mais belos e preciosos, não valiam a vida de um ser humano.
    Perdoou o sábio e também ao servo desastrado.
                                                                                                             ( Malba Tahan)

GENTE É BICHO E BICHO É GENTE

   GENTE É BICHO E BICHO É GENTE

      Querido Diário, não tenho mais dúvida de que este mundo está virado ao avesso! Fui ontem à cidade com minha mãe e você não faz ideia do que eu vi. Uma coisa horrível,horripilante, escabrosa,assustadora, triste, estranha, diferente, desumana... E eu fiquei chateada. 
      Eu vi um homem, um ser humano, igual a nós, remexendo na lata de lixo. E sabe o que ele estava procurando? Ele buscava, no lixo, restos de alimento. Ele procurava comida! 
      Querido Diário, como pode isso? Alguém revirando uma lata cheia de coisas imundas e retirar dela algo para comer? Pois foi assim mesmo, do jeitinho que estou contando. Ele colocou num saco de plástico enorme um montão de comida que um restaurante havia jogado fora. Aarghh!!! Devia estar horrível! 
     Mas o homem parecia bastante satisfeito por ter encontrado aqueles restos. Na mesma hora, querido Diário, olhei assustadíssima para a mamãe. Ela compreendeu o meu assombro. Virei para ela e perguntei:       
      _“Mãe, aquele homem vai comer aquilo?” Mamãe fez um “sim” com a cabeça e, em seguida, continuou:       
       _“Viu, entende por que eu fico brava quando você reclama da comida?”. 
              É verdade! Muitas vezes, eu me recuso a comer chuchu, quiabo, abobrinha e moranga. E larguei no prato, duas vezes, um montão de repolho, que eu odeio! Puxa vida! Eu me senti muito envergonhada! 
     Vendo aquela cena, ainda me lembrei do Pó, nosso cachorro. Nem ele come uma comida igual àquela que o homem buscou do lixo. Engraçado, querido Diário, o nosso cão vive bem melhor do que aquele homem. Tem alguma coisa errada nessa história, você não acha? 
     Como pode um ser humano comer comida do lixo e o meu cachorro comer comida limpinha?    Como pode, querido Diário, bicho tratado como gente e gente vivendo como bicho? Naquela noite eu orei, pedindo que Deus conserte logo este mundo. Ele nunca falha. E jamais deixa de atender os meus pedidos. Só assim, eu consegui adormecer um pouquinho mais feliz. 

(OLIVEIRA, Pedro Antônio. Gente é bicho e bicho é gente. Diário da Tarde. Belo Horizonte, 16 out. 1999).

O CARACOL INVEJOSO

   O Caracol  Invejoso

       O caracolzinho sentia-se muito infeliz. Via que quase todos os animais eram mais ágeis do que ele. Uns brincavam, outros saltavam. E ele aborrecia-se debaixo do peso de sua carapaça! 
       - Vê-se que meu destino é ir devagarinho, sofrendo todos os males! dizia ele, bastante frustrado.
       Seus amigos e familiares tentavam consolá-lo, mas nada conseguiam.
       - Caracolino, pense que, se a Natureza lhe deu essa carapaça, para alguma coisa foi, disse-lhe a tartaruga, que se encontrava em situação semelhante à dele.
       - Sim, claro, para alguma coisa será! Pode explicar-me a razão? Perguntava Caracolino, ainda mais chateado  por receber tantos conselhos.
       Caracolino tornou-se tão insuportável por suas reclamações, que todos o abandonaram. E ele continuava com  sua carapaça às costas, cada vez mais pesada para o seu gosto.
        Um dia,  desabou uma tempestade. Choveu  durante  muitos  dias. Parecia  um  dilúvio!  As águas subiram, inundando tudo. Muitos dos animaizinhos que ele invejara, encontravam-se agora em grandes dificuldades.      
        Caracolino, porém, encontrou um refúgio seguro. Dentro de sua carapaça estava totalmente protegido!
        Desde então, compreendeu a utilidade de sua lenta e pesada carapaça. Deixou de protestar, tornando-se um animalzinho simpático e querido por todos.

O GATO E A RAPOSA

             O gato e a raposa        

         O gato e a raposa andavam sempre juntos pelo mundo. Eram muito amigos, apesar de a raposa estar sempre desvalorizando o colega.
       - Amigo gato, por que não aprende mais truques para fugir dos cachorros que nos perseguem? Sempre ouvi dizer que você é tão inteligente. Será verdade?
       - Sei subir rapidamente em árvores. É o que me basta. Os cachorros não vão me pegar.
        - Você só sabe isso? Eu sei 99 truques diferentes! Conheço mil manhas, cada uma melhor que a outra. Finjo-me de morta, me escondo nas folhas secas, nas moitas, corro em zigue-zague, disfarço minhas pegadas...
       Enquanto a raposa falava distraidamente das suas habilidades se aproximavam dali dois cachorros. O gato muito esperto, subiu rapidamente na árvore. Quando a raposa percebeu a presença dos cachorros, teve que sair em disparada para fugir deles. 
        - Pobre comadre raposa. É sempre preferível saber bem uma só coisa a saber mal noventa e nove coisas diversas.